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segunda-feira, agosto 26, 2013

Sim, só que não




A gente carrega uma infinita porção de “nãos”, já perceberam isso?? algo que adquirimos desde o nascimento
Aqui sempre foi assim e com você, deve ser também. Comecei minha vida sem nenhum equilíbrio e nas costas, já sentia o peso da voz que me dizia para nem tentar ficar de pé. “Não se atreva!”, berrava o meu próprio comodismo. “Não arrisque!”, falava o meu incalculável medo. Com sorte, eu os ignorei e, além de alguns pontos na testa, ganhei meu primeiro “sim”. Eu fiquei de pé e mais do que isso: joguei meu primeiro “não” no lixo.
Só assim, sem tal peso desnecessário, pude me levantar pela primeira vez. Alguns anos depois, já na escola, desejei o primeiro beijo. Morria de medo dela não me querer, afinal, eu era apenas mais entre tantos magrelos de óculos da terceira série. Eu queria beijá-la, queria muito, mas não sabia como me aproximar daqueles lábios adolescentes.
Ensaiava diante do espelho, como nos filmes,ensaiava um pedido de beijo. Queria muito saber que gosto ela tinha, pois até o momento: só conhecia o sabor do Bubbaloo de uva e dos doces que meu pai trazia de montes, doce de abobora que as vezes. Aproximei-me dela algumas vezes, sem sucesso, pois nunca sabia que dizer, se travava todo, era uma desgraça kk Ela mudou de escola, nunca mais a vi e, até hoje, como um peso desnecessário  sinto o “não” que ela nem chegou a me dizer. Eu já tinha aquele “não” e a única maneira de ter me livrado dele, era ter feito algo em prol do “sim”, mas não fiz absolutamente nada. Não disse nada. Não fiz nem mímica, e continuei na mesma
O tempo passa e, aos poucos, fui entendendo a imensa fragilidade da vida. Percebi que meu coração não é de aço e nem à prova de gordura trans e que, cedo ou tarde, agora ou depois, eu certamente morrerei como manda o ciclo dos seres vivos. Então, impulsionado pela constante iminência da morte, tomei uma importante e maravilhosa decisão: ja que vou morrer um dia, vou tentar morrer com o minimo de não possíveis . Foi a melhor coisa que fiz e graças a isso, aprendi, por exemplo, a burlar a rotina que insiste em tentar me afastar dos meus amigos.
Moro em São Bernardo, cidade naturalmente opressora, na qual a distância geográfica entre as pessoas, somada à rotina, tende sempre a impedir os encontros, mas eu descobri que, mesmo diante das maiores barreiras urbanas e correndo sempre o risco de mergulhar dentro dos maiores engarrafamentos, ainda é possível transformar o “Não conseguirei tomar uma hoje” em um valioso “Pode descer, pois já estou chegando”. Saio de casa cheio de “nãos” e lotado de “talvez”, mas, de forma alguma, aceito voltar para casa sem saber se aquele monte de negações e de dúvidas poderiam ter sido transformadas em ao menos um “sim”. Muitas vezes, dá completamente errado e a menina da balada, com um sonoro tapa, reforça o “não” que já tinha antes mesmo de conhecê-la, mas e daí? Eu arrisco,eu tenho certeza que a vida é linda ^^ 

Um comentário:

Veri Homburger disse...

Às vezes temos que ouvir um "não" para podermos procurar e saber o que um "sim" é capaz de fazer. Imagine se fosse ao contrário? Se você a vida toda ouvisse um "sim" para tudo o que pedira ou mesmo quisera? Ia querer um "não", para assim, saber o seu significado e o quão doloroso é ouvir um "sim" todo momento!
Como diz meu pai: "o não você já tem, vá atras do sim". Colocar a cara a tapa é isso, vá em frente e enfrenta o "não" para conseguir o "sim".